domingo, 11 de setembro de 2016

CRÍTICA: RAINHA E PAÍS


Aos 9 anos, ainda de posse daquela ingenuidade que frequentemente é uma das mais cortantes ferramentas críticas acerca do mundo adulto, o pequeno Bill Rohan foi um protagonista memorável para Esperança e Glória, o filme de 1987 no qual o diretor John Boorman recuperava, com alguma ficcionalização, sua experiência aventuresca de crescer na  Londres sob os bombardeios nazistas da II Guerra. Um observador por excelência, como convém a um futuro cientista, Bill reaparece agora, aos 18 anos, em Rainha & País (Queen and Country, Irlanda, França e Romênia, 2014), já em cartaz. E a guerra, tão definidora de todos os aspectos da vida inglesa mesmo décadas após o seu término - do infindável racionamento de alimentos à reação representada pela revolução pop dos anos 60 -, dita também os rumos mais comezinhos da vida de Bill (Callum Turner): convocado pelo Exército, ele não é mandado para lutar na Coreia, como imaginava. Junto com seu inseparável amigo de caserna, o baderneiro Percy (Caleb Landry Jones), recebe a incumbência de permanecer no quartel e trocar as aulas de datilografia dos novos recrutas. Entediados e exasperados com as regras da caserna, os dois exercitam seu inconformismo de várias maneiras possíveis. Uma de suas brincadeiras, porém, revela-se funesta. Ao voltarem o código militar contra o superior (David Thewlis)  que os atormenta com seu conhecimento em prosa e verso de todos os artigos nele contidos, os rapazes provocam no sujeito um tristíssimo colapso: veterano das duas grandes guerras e gravemente traumatizado desde a primeira delas, o superior tinha seu apego aos verbetes e alíneas a única forma de manter alguma sanidade. 

Mas que sanidade poderia haver em um sistema nascido de um mundo já desaparecido?, indaga John 
Boorman hoje com 82 anos. Tudo em volta dos personagens é um sinal de uma Inglaterra que logo estaria radicalmente mudada, e na qual a coroaçã o da rainha Elizabeth II, em 1953, é vista pelos protagonistas como um desfile curioso, ou como um símbolo vazio de um poder irremediável perdido na década anterior. Essa é, claro, a sensação que Bill experimenta, não o saldo dos fatos com sua graça, sua nostalgia e sua empatia. Rainha & País acaba por ressaltar muitas coisas nas quais a Inglaterra de ontem poderia reconhecer a de hoje. Entre elas, a extraordinária capacidade de mudar junto com os tempos - e de se divertir enquanto o faz. 

ISABELA BOSCOV - VEJA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gracyanne Barbosa mostra suas partes íntimas sem querer.

    #GracyanneBarbosa  foi fazer um plubipost em suas redes sociais de uma cinta e sem querer acabou mostrando suas partes íntimas. Fonte: I...